A ministra angolana da (suposta) Educação, Luísa Grilo, considerou hoje que o protesto contra a falta de carteiras organizado por um professor de uma escola de Luanda, que será alvo de um processo disciplinar, foi uma “precipitação” e defendeu mais diálogo. Como o professor sabe, e nós também, “diálogo” para o MPLA significa estar sempre de acordo com o… MPLA.
Luísa Grilo admite, no entanto, a falta de carteiras, indicando que existe um programa de distribuição, que já permitiu o apetrechamento de várias escolas, de acordo com os planos definidos pelos municípios. Há 47 anos no Poder, o MPLA nem consegue dotar as escolas com carteiras, é obra.
“Infelizmente, tivemos esse incidente por precipitação. Era possível, através da direcção da escola, terem conversado, e saberiam do programa de distribuição de carteiras e qual a planificação para solucionar este problema”, afirmou, referindo-se à Escola 5108, no distrito da Estalagem, município de Viana, onde na semana passada uma manifestação de alunos culminou na detenção de um professor.
A ministra, que falava à margem da apresentação de um programa de bolsas escolares, apontou, além do número insuficiente, a existência de material degradado e indicou que muitas carteiras são vandalizadas, destruídas ou roubadas pela própria comunidade escolar, defendendo mais diálogo entre a escola, família e comunidade para evitar incidentes e conflitos.
Questionada sobre o professor que organizou o protesto e vai ser alvo de um processo disciplinar, Luísa Grilo considerou que a atitude do professor “não foi ingénua” e lamentou que tenha desrespeitado a direcção da escola.
No seu entender, o professor foi “imprudente” ao movimentar crianças na via pública, o que “exige cuidados redobrados” e afirmou e que esse momento deveria ter sido articulado com as autoridades para não parecer “uma arruaça”.
Também o administrador municipal de Viana, Demétrio António Braz, falou de “instrumentalização das crianças” que foram colocadas “numa das vias mais movimentadas do município”, com riscos para a sua segurança, criticando o professor por não ter cumprido os requisitos legais do direito à manifestação.
Quanto ao seu regresso à docência, “tudo vai depender” do desfecho do processo disciplinar. E, é claro, se aceitar fazer – como mandam as regras da democracia “made in MPLA” – um transplante e passar o cérebro para os intestinos.
Naquela escola da periferia de Luanda, onde estudam cerca de 3.000 alunos da 7.ª à 9.ª classe, as actividades lectivas decorriam hoje com normalidade, em salas onde o número de carteiras é ainda insuficiente e o calor torna as condições mais penosas para os alunos que aí passam várias horas por dia.
Os cerca de 300 alunos que saíram à rua na quinta-feira passada para reivindicar carteiras foram dispersados pela polícia e ouviram-se disparos que geraram algumas situações de pânico. Alguns alunos sofreram ferimentos ligeiros enquanto fugiam e outros estiveram desaparecidos até ao início da noite.
Na sequência do protesto, o professor Diavava (Coronel Bernardo) foi detido e libertado um dia depois, tendo sido hoje ouvido pelas autoridades de justiça.
A polícia (do MPLA) instaurou, entretanto, um inquérito para averiguar as circunstâncias da intervenção. Segundo o administrador da Viana (do MPLA), “a polícia protegeu as crianças” e tentou controlar o movimento na via pública.
“A polícia é muito responsável, não iria direccionar tiros contra as crianças, mas o som dos disparos produz efeitos, mas felizmente todos foram levados em segurança para a escola e para a casa”, acrescentou, indicando que os ferimentos se deveram à “movimentação” dos alunos na rua.
Disse ainda que todas as escolas “precisam de carteiras, umas mais do que outras”, explicando que são necessárias cerca de 23 mil carteiras para atender às necessidades em Viana, estando o processo de distribuição a decorrer desde Maio.
A ministra da Educação, Luísa Grilo, defendeu em Setembro de 2021, em Moçâmedes, que as tecnologias digitais devem estar ao dispor de todos e o seu uso aproveitado como uma nova forma de alfabetizar. Os 20 milhões de angolanos pobres… agradeceram, assim como os jovens estudantes que nem carteiras têm.
A ministra, que falava no acto central do Dia Mundial da Alfabetização, que decorreu sob o lema “Alfabetizar para aumentar a inclusão digital em tempos de pandemia”, disse que as novas tecnologias devem ser geridas para as áreas da formação, comunicação, informação, trabalho, entretenimento e na aproximação entre as pessoas em todos os enquadrantes.
Luísa Grilo reconheceu na altura que alfabetizar era cada vez mais desafiante, tendo em conta o momento difícil que se vive, por causa da pandemia da Covid-19.
Em função disso, todos os sectores, incluindo o da Educação, estavam a adoptar novos procedimentos e formas de trabalho, através do uso das novas tecnologias e uma combinação entre as técnicas convencionais e as tradicionais.
A ministra reconheceu que as tele e rádio-aulas e o uso da Internet para fins educacionais são recursos usados para se assegurar as aprendizagens. Por isso, em 2021, a UNESCO definiu como lema para as comemorações da alfabetização a recuperação centrada no ser humano e na redução da disparidade digital. É de crer que, na prossecução de mais esta promessa, o MPLA venha a instalar computadores de acesso livre e gratuito nas grandes superfícies que fornecem sem custos alimentos à população – as lixeiras.
“Angola está a dar os primeiros passos para uma massificação tecnológica”, avançou a ministra, assegurando que o Executivo assume, cada vez mais, a importância da utilização de novas tecnologias.
A ministra recorreu os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) para dar conta que, desde 2020, cerca de 14,6 milhões de cidadãos são usuários de telemóveis, outros 8,9 milhões utilizadores de internet e 2,20 milhões recorrem activamente às redes sociais. Os estudantes também, nem que tenham de se sentar em adobes ou em latas de “Nido”.
“Os desafios para aumentarmos as taxas de inclusão digital ainda são grandes. Vimos aqui que o uso da internet ainda é limitativa e estamos conscientes de que tudo não depende só da extensão do sinal das redes de telecomunicação, mas sobretudo, do nível da alfabetização das suas populações, por isso, o lema escolhido para o nosso país é Alfabetizar para aumentar a inclusão digital em tempos de pandemia”, afirmou Luísa Grilo.
A ministra garantiu que o Executivo entende que a alfabetização tem um papel importante em todas as vertentes sociais: ” Se durante a pandemia da Covid-19 fomos obrigados a manter o distanciamento social e recorrer às novas tecnologias, as pessoas iletradas vivenciaram uma dupla maneira: Uma imposta pela pandemia e outra pela sua condição académica”.
Luísa Grilo disse “ser momento de agir perante a recente crise da pandemia da Covid-19, que tem acentuado os problemas da alfabetização e da educação dos jovens e adultos, com repercussões negativas na escolarização e nas oportunidades de aprendizagem ao longo de toda a vida, contribuindo, deste modo, para os níveis de atraso e das taxas do analfabetismo “.
Folha 8 com Lusa